sábado, 10 de março de 2012

Arte Retrata Denúncia e Resistência Frente à Ditadura Chilena


Durante a ditadura militar chilena, que durou de 1973 a 1990, muitas denúncias sobre os problemas políticos e sociais enfrentados no país eram feitas por mulheres por meio de arpilleras. Trata-se de uma técnica têxtil elaborada em pano rústico ─ geralmente cânhamo ou linho grosso, proveniente de sacos de farinha ou batatas ─, com linhas, vários objetos e retalhos de tecidos.

A coleção nasceu das mãos de mulheres que foram presas ou cujos maridos ou filhos tinham sido vítimas da ditadura.

Alguns desses trabalhos feitos por essas mulheres serão exibidos aqui no Brasil em uma exposição itinerante, chamada Arpilleras da Resistência Política Chilena. Ela irá passar por cinco cidades, a partir de março, sempre com entrada gratuita. Isso graças ao patrocínio da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, obtido por meio do edital “Marcas da Memória”.

A primeira destas exposições acontece em Brasília, entre os dias 22 e 29 de março, na Biblioteca Nacional. Depois, segue para Porto Alegre (RS), de 10 a 17 de abril, no Memorial do Rio Grande do Sul. De 7 a 14 de maio, será a vez dos curitibanos conhecerem as arpilleras, no Memorial de Curitiba (PR). Em Belo Horizonte (MG), no Centro Cultural UFMG, a exposição será realizada de 18 a 24 de maio. E o encerramento será na cidade do Rio de Janeiro, de 29 de maio a 5 de junho, no Arquivo Nacional.

Clara Politi, produtora da exposição, conta que as Arpilleras desta coleção nasceram das mãos de mulheres que estiveram presas ou cujos maridos ou filhos tinham sido presos, torturados ou assassinados durante a ditadura.

Inicialmente uma obra de artesanato popular, estas peças acabaram tendo não só valor artístico como serviram para ajudar financeiramente estas mulheres que se uniam em grupos de trabalho, comunidades artesãs ou entidades da sociedade civil. “Desta maneira, além de tentar denunciar dentro do próprio país e também para os estrangeiros as situações de falta de liberdade e privações pelas quais estavam passando, essas mulheres conseguiam reforçar o sustento da família com o que elas confeccionavam”, explica a produtora.

Oficinas gratuitas

A exposição traz cerca de 30 arpilleras - que têm, em média, um tamanho de 60 x 60 cm -, todas elas produzidas durante a ditadura. Algumas delas ilustram, por exemplo, a determinação das mulheres diante da repressão policial às suas reivindicações (Hornos de Lonquén, de 1979), o senso de comunidade e a força política e social que elas conseguiam manter nesse cenário (Corte de Agua, de 1980) e o terrorismo praticado pelos soldados carabineiros chilenos, a polícia local (Represión a Vendedores Ambulantes, de 1983).

“Nas arpilleras que formam esta exposição está escrita a própria história social de um grupo de mulheres que, de alguma forma, sofreram torturas e discriminações típicas de um regime ditatorial e que puderam encontrar o caminho para expressar suas emoções e também denunciar o que ocorria nos cárceres chilenos”, completa Clara. Ela diz que durante a exposição também haverá oficinas gratuitas para ensinar aos participantes a técnica de confecção das arpilleras.

As arpilleras que serão exibidas aqui no país pertencem à pesquisadora chilena Roberta Bacic, curadora da exposição. Nascida em 1949, ela já montou mais de trinta exposições de arpilleras pelo mundo, em países como Japão, Estados Unidos e França. A primeira delas foi realizada em 2008, na Irlanda do Norte, onde a curadora reside desde 2004.


Imagem: Arpillera da coleção de Roberta Bacic
Texto: www.vermelho.org.br

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