Obra de Claudia Calirman conta como o cenário político
influenciou a entrada do Brasil na onda das performances que dominava os anos
1970.
Enquanto a produção
musical, cinematográfica e teatral no Brasil era alvo constante de censura
durante o período militar, as artes plásticas passaram ao largo do terror da
perseguição policial. Isso não quer dizer, porém, que os artistas mantiveram
seus pincéis e ideias intocados pelos anos de chumbo no país. Pelo contrário,
nas décadas 1960 e 70, com exceção do período em que vigorou o Ato
Institucional nº 5, a produção desse segmento cultural foi bastante profícua, e
inclusive responsável por colocar o Brasil, pela primeira vez, no mapa das
performances.
O período de restrições a uma série de direitos no Brasil coincidiu com uma mudança importante no cenário artístico internacional. No início dos anos 70, a pintura e a escultura deram lugar às performances no palco principal da expressão artística. “A arte saiu dos museus e foi para as ruas e até para os corpos dos artistas”, diz Claudia Calirman, especialista em história da arte que acaba de lançar o livro Brazilian Art Under Dictatorship (Arte Brasileira na Ditadura Militar, Duke University Press, 232 páginas, 24,95 dólares ou cerca de 50 reais o impresso simples e 89,95 dólares ou cerca de 180 reais a capa dura).
O livro é resultado
de uma tese de doutorado. Carioca, Claudia mora desde 1989 em Nova York,
onde atua como curadora e guia do Museum of Modern Art (Moma). Para
retratar a produção feita no Brasil durante a ditadura, a especialista
selecionou três artistas que revolucionaram a linguagem artística justamente
para driblar as restrições impostas pelos militares. Antonio Manuel, Artur
Barrio e Cildo Meirelles foram difefenciais por se apropriar de instrumentos
presentes na sociedade, como cédulas, jornais e garrafas de refrigerante, para
expressar sentimentos e opiniões a respeito do regime vigente.
A publicação também
enumera as exposições censuradas na época. Uma delas, a mostra Pré Bienal de Paris, prevista para abrir ao público em 29 de
maio de 1969, por exemplo, foi fechada pelos militares antes da inauguração. O
motivo foi a inclusão de uma foto do fotojornalista Evandro Teixeira, do Jornal do Brasil, que mostrava o tombo da moto de um oficial
da Força Aérea Brasileira (FAB) durante desfile cívico. “Eles viram como uma
provocação e, por causa de uma única imagem, toda a exposição foi suspensa”,
diz Claudia.
Outro momento
importante foi a performance improvisada de Antonio Manuel durante a abertura
do salão do MAM-RJ, em 1970. Indignado por ter sido rejeitado na seleção, ele
tirou as roupas e circulou pelos três andares do museu completamente nu. Sua
obra era seu próprio corpo, que foi impedido de ser exposto no salão. “O museu
foi fechado na mesma hora e foram todos correndo para a casa do crítico de arte
Mario Pedrosa. Foi ele quem lançou a frase mais importante do período: ‘O que o
Antonio Manuel fez foi o exercício experimental da liberdade’. O termo seria
usado posteriormente para designar outras obras.”
Imagem: Obra de
Cildo Meirelles, Inserções em Circuitos Ideológicos Projeto Cédula
Texto: Mariana
Zylberkan
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