sábado, 15 de outubro de 2011

Ensino de Arte: Renovação Sem Perda de Memória



Por Ednaldo Britto

A Revolução Científico-Tecnológica (RCT) responsável pela difusão de novos paradigmas no mundo globalizado vem alterando profundamente, desde a década de 1950, a produção e o entendimento das artes visuais.

Neste contexto, o universalismo moderno e sua concepção de progresso guiado por movimentos de vanguarda foi rapidamente substituído por um novo sistema de comunicação em rede, intimamente articulado com o mercado mundial.

Em meio às reações adversas de desconforto e perplexidade causados pela RCT, encontramos um ensino de arte deslocado dos fundamentos que o mantinham diante da contraposição entre ‘Acadêmicos e Modernos’.

Com a entrada dos ‘Contemporâneos’ como terceiro elemento no jogo cultural o ensino de arte vê-se diante da necessidade de se renovar, tendo que assimilar novos conhecimentos sem desvincular-se da tradição que assegura a manutenção de referenciais históricos importantes.

No campo da arte propriamente dito, onde a produção gera todos os substratos para o trabalho dos educadores, a atual incomunicabilidade dos argumentos de análise e a carência de critérios plausíveis na avaliação do que é produzido geram uma permanente instabilidade que contamina o campo educacional.

Na tentativa de assegurar o mínimo de condições para realizar o seu trabalho o professor de arte evita lidar com os novos conceitos propostos (Conceitualismo, apropriação, interatividade, intervenção, hibridismo), mantendo suas atividades dentro de ‘parâmetros acadêmicos ou modernos aceitáveis’ e condizentes com as estruturas mínimas oferecidas; desviando-se do possível envolvimento com questões ainda não compreendidas nem mesmo por aqueles que formulam os discursos no interior do sistema das artes.

Neste tenso e fascinante período de transformações e reformulações impulsionadas pela sociedade da comunicação, o professor, em contato com a produção da arte atual, necessita manter muito bem sedimentado os seus fundamentos educacionais, filosóficos e históricos de arte. Somente assim, terá condições de avaliar de maneira crítica a formação contínua do seu arcabouço de conhecimentos, o que viabiliza a renovação de suas práticas sem perda de memória.


Imagem: Ednaldo Britto - "Real" fotografia, 2009.


Referências

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GARDNER, James. Cultura ou Lixo? Uma Visão Provocativa da Arte Contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.
SANTOS, Milton. Por uma Outra Globalização: Do pensamento Único à Consciência Universal. Rio de Janeiro: Record, 2010.
SMIERS, Joost. Artes sob Pressão: Promovendo a Diversidade Cultural na Era da Globalização.
São Paulo: Escrituras, 2006.
SCOVINO, Felipe. Arquivo Contemporâneo. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2009.
VISENTINI, Paulo G. Fagundes & PEREIRA, A. Danilevicz. História do Mundo Contemporâneo: Da Pax Britânica do século XVIII ao Choque das Civilizações do século XXI. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

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