quarta-feira, 21 de julho de 2010
Visuais Artistas: Muitas Flores Contra a Ditadura
Lucia Gomes leva para a galeria do MHEP sua interferência virtual “aBRa ”.
Poucos enxergariam as correntes, aquele tipo de mensagem eletrônica não solicitada enviada em massa, como uma forma de arte. Entretanto Lucia Gomes é uma dessas raríssimas exceções. Na exposição “aBRa - Abertura dos Arquivos da Ditadura (1964 - 1985)”, a artista paraense reúne uma série de fotografias criada inicialmente como um spam. O projeto nasceu de uma série de intervenções virtuais que consiste basicamente no envio de fotos de flores como uma crítica à impunidade dos crimes cometidos pelos militares durante a ditadura no Brasil.
“É uma subversão daquela antiga brincadeira ‘peque esse anelzinho e não diga nada a ninguém’ para ‘pegue essa florzinha conte tudo a todos’. As flores são uma metáfora para a dor dos torturados e desaparecidos e um sinal de esperança para que os que ainda lutam para que algo tão horrível quanto a ditadura nunca mais aconteça”, explica a artista.
A exposição sai do meio virtual para ganhar pela primeira vez espaço no Museu Histórico do Estado do Pará. Formada por dois ambientes, o evento irá contar com uma sala escura com projeções de fotos digitais de flores e uma “sala de memória”, composta por recortes de notícias, fotos e documentários a respeito do período. “É uma questão de resgate da nossa história, porque só vamos reconquistar nossa dignidade como cidadãos quando a verdade for revelada e os culpados forem punidos”, diz Lúcia.
SÉRIE
O aBRa faz parte de uma série de trabalhos temáticos da artista sobre a violência no país. Tudo começou em 2007, quando ficou estarrecida com notícia de que uma menor havia sido presa em uma cela cheia de homens no interior do Pará e submetida a uma série de abusos por vários dias. Do choque, surgiu a obra “Nem que L. tenha 100 anos”, uma foto que retrata uma colher servindo um tufo de cabelo arrancado da cabeça da performer. “Quando eu começo a pesquisar a fundo a questão da violência no Brasil, percebo que ela se recrudesce durante o período ditatorial. Criou-se toda uma cultura de violência e barbárie do país que mesmo hoje, 30 depois do fim da ditadura, ainda não foi desmantelado”, afirma.
NEGÓCIO DA CHINA
Além da exposição em Belém, Lúcia Gomes apresenta este mês uma mostra coletiva no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Intitulada “Me Manda Pra China”, a performance consiste em um contêiner que será recheado por produtos chineses danificados doados pelo público. “É uma critica ao consumismo desenfreado que nós vivemos. Algo barato, massificado e sem substância. Minha vontade era mandar de volta para o país de origem assim que estiver cheio”, conta.
SERVIÇO
A exposição aBRa - Abertura dos Arquivos da Ditadura (1964 - 1985) de Lucia Gomes abre hoje, a partir das 12h, no Museu Histórico do Estado (Palácio Lauro Sodré S/N - Cidade Velha). Visitação até dia 19 de setembro. Informações: 4009-9835.
Texto: Diário do Pará
Imagem: luciagomeszinggeler.blogspot.com
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